A escravidão foi a fórmula encontrada pelas metrópoles européias para explorar as terras americanas que se constituiriam nos vastos impérios coloniais. No Brasil, por mais de três séculos seria a mola mestra da vida econômica.
Durante o período escravocrata, São Carlos atingiu o segundo lugar no tráfico de escravos para o interior paulista, perdendo somente para a região de Campinas. A economia da povoação era totalmente agrária com alguma produção de cana e quase totalmente voltada para a subsistência. Nessa época o negro era a base da produção sendo o escravo quem trabalhava o campo e produzia o alimento e a renda.
Em meados de 1850, a expansão do café traz para a região um salto econômico. São Carlos torna-se então um forte núcleo comprador de escravos. Uma vez que o tráfico da África havia sido bloqueado, os negros vinham principalmente de estados nordestinos e de Minas Gerais, onde a economia estava em crise.
O café era então a riqueza fundamental de São Carlos, sendo a produção essencialmente destinada ao mercado externo (Europa e Estados Unidos).
Não havia em geral muita preocupação com a documentação relativa aos escravos; o primeiro censo foi realizado na cidade em 1874.
A matrícula era um documento de registro de propriedade de homens e mulheres na condição de escravos. Os documentos mostram que os escravos tinham somente o nome de batismo, e eram registrados somente com o nome da mãe. Além disso havia nomes repetidos, e o filho às vezes era batizado com o nome do proprietário ou de um santo. Com isso, torna-se muito difícil acompanhar os caminhos percorridos por um escravo desde sua origem e localizar seus descendentes. Vindos de diversas nações africanas, suas culturas foram mantidas dentro das senzalas: comida, dança, música e religião, que diante da pressão do catolicismo oficial do Estado, sobreviveu através do sincretismo que perdura até o presente.
A dificuldade de se encontrar dados precisos relativos à escravidão se deve, principalmente, ao fato da determinação de 1890 que mandou incinerar os documentos de matrículas das Coletorias de Renda. Tais registros comprovavam a propriedade do escravo, e com sua eliminação se evitou a pressão dos ex-proprietários em exigir indenização do Estado pela Abolição.
O escravo não era considerado cidadão, e não possuía os direitos correspondentes. O Código Comercial da época incluía os escravos entre os bens semoventes; embora isto não os transformasse em objeto passível de comércio, eles eram transacionados. A prática era utilizar procurações para compra e venda; assim, comerciantes e fazendeiros se tornavam procuradores para as transações, escamoteando a comercialização de escravos. Havia também os chamados "negociantes", que nada mais eram que comerciantes de escravos.
O Estado recolhia impostos sobre as transações de escravos, e cobrava normalmente pela emissão de certidões que comprovavam sua posse, bem como de outros documentos relativos aos mesmos.
Em 1870, a produção de café na Província de São Paulo correspondia a 16% da produção nacional; em 1885, São Paulo já produzia 40% do café brasileiro. Esse fato se refletia na valorização das terras produtivas e da mão-de-obra escrava. O escravo alcançava um alto preço e nos inventários registrados na cidade de São Carlos chegavam a ser 66% do patrimônio do senhor.
As condições de vida da população eram precárias naquele tempo. Dignas de nota foram as duas grandes epidemias de varíola que passaram pela cidade. Se a população livre não tinha boas condições sanitárias, ainda piores eram as condições de vida dos cativos. A idade média de um escravo era de 30 anos, sendo que com cerca de 10 anos de trabalho produtivo já estava esgotado. As maiores "causa-mortis" entre os escravos eram: traumatismos, doenças cardiovasculares e inanição.
Os trabalhos que produziram o vídeo "Presença do Negro em São Carlos" e esta versão hipertexto tiveram suporte da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo (USP) e da Comissão de Cultura e Extensão Universitária do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP - São Carlos (ICMC-USP).
Os dados sobre o período escravocrata foram baseados no "Inventário Analítico: A escravidão em São Carlos" do Prof. Álvaro Rizzoli, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com material e documentos cedidos pelo autor.