Diante do aumento de demanda de energia elétrica e da importância das questões ambientais, a discussão acerca da implantação de novas matrizes energéticas no Brasil ganha cada vez mais espaço. O tema foi debatido ontem (13/7) na 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorre entre os dias 12 e 18 de julho no Campus São Carlos da UFSCar.
A conferência "Instalações Nucleares: Riscos e desenvolvimento no cenário atual do Brasil" foi ministrada pelo Capitão da Marinha do Brasil Leonardo Amorim do Amaral e contou com a presença de estudantes dos ensinos Médio e Superior, professores, pesquisadores e outros interessados.
Segundo Amaral, é importante o Brasil planejar novas estratégicas energéticas para atender a demanda e possibilitar preços mais acessíveis. Atualmente, cerca de 73,5% da energia elétrica é proveniente das usinas hidroelétricas. "Até 2060 teremos mais de 250 milhões de habitantes e o esgotamento do potencial hídrico. Com o aumento da demanda e a necessidade de crescimento do País, é necessário aumentar significativamente a oferta de energia elétrica", defendeu. Além disso, também é importante diversificar as fontes energéticas e pensar em opções que diminuem a utilização dos combustíveis fósseis e a emissão de gás carbônico.
Amaral acredita que o investimento em energia nuclear pode ampliar a participação do Brasil no cenário internacional, pois o País está comprometido com o uso pacifico da energia nuclear e conta com a terceira maior reserva mundial de urânio. Na opinião de Amaral, o aumento da utilização de energia nuclear pode também incentivar o desenvolvimento de outras áreas que utilizam materiais radioativos, como as ciências médicas e a indústria.
Durante a palestra, também foi abordada a execução do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), que envolve a construção de um submarino movido a energia nuclear, além de outros quatro convencionais, movidos a diesel e eletricidade. "Uma das maiores dificuldades é aplicar alta tecnologia em um espaço restrito", salientou Amaral.
Apesar das vantagens, Amaral explicou que ainda existe um conjunto de percepções por parte da população que prejudicam o desenvolvimento de políticas de instalação de novas usinas nucleares, como a relação direta aos riscos de acidentes e vazamentos de radiação, que se intensificaram após o acidente na usina japonesa de Fukushima, ocorrido em 2011.
Durante a apresentação, Amaral explicou que a instalação de uma usina nuclear segue um conjunto de protocolos, estabelecidos pela Agência Internacional de Energia Atômica, para garantir que o risco de acidente não ultrapasse a proporção de um por um bilhão. Para isso, são necessárias garantias contra o vazamento de radiação do urânio enriquecido, um sistema selado de refrigeração, estruturas resistentes de suporte ao reator e contenção. Além disso, a usina nuclear deve ser instalada em local estratégico, pouco populoso e que permita a rápida evacuação.
Para finalizar, Amaral defendeu que, diante dos protocolos de minimização de acidentes e da preparação de profissionais qualificados para aplicar os protocolos de segurança, a energia nuclear pode complementar a oferta energética e atender a demanda diante das perspectivas de aumento no consumo e da importância da energia elétrica em projetos de desenvolvimento do País.