O cenário é Angola, na África, mais especificamente a Aldeia Mana Culele. O protagonista dessa história é Casimiro Paschoal “Lumbandanga” da Silva, militante e morador de São Carlos, e que viajou para o país africano em abril de 2013. Nessa experiência, além de aprofundar o conhecimento sobre o berço de seus antepassados, fez um registro dos lugares que passou, adquirindo o material que gerou a exposição.
“Faces” é, portanto, resultado da viagem de um homem que há anos é militante na luta pela igualdade racial que conseguiu apresentar sua alma nas poesias e, por meio da arte, vem propor à sociedade uma reflexão sobre a realidade de um país em reconstrução e o valor de um povo marcado pela escravidão e discriminação.
O Centro Cultural da USP São Carlos irá sediar até o dia 4 de janeiro essa exposição que retrata o imaginário africano por meio de fotos.
“Separados por um oceano, irmãos de cor e de sangue, fomos arrancados de nossa Terra Mãe, mas nunca seremos desconhecidos, pois nossas “Faces” se reconhecem e nossos olhares sempre se voltarão para um futuro melhor, de oportunidades e de valorização”, ressalta Casemiro.
Aberta ao público e gratuita, a exposição “Faces” foi lançada no Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, e se estende até o início do ano de 2014.
Segundo Casimiro, as imagens expostas traduzem um pouco do que pôde ver e viver em Angola. “Na exposição procurei retratar um pouco do imaginário de uma população marcada pela história de guerrilhas e sofrimentos”, disse.
Por meio de retratos em branco e preto e coloridos, Casimiro procura expressar a espiritualidade e a graça do povo africano. “Mesmo com todo o sofrimento que já passaram e que até hoje ainda enfrentam, eles carregam no rosto traços de alegria de viver, disfarçado em um sorriso verdadeiro e cativante”, completou.
Por meio de cores dos olhares, dos tecidos, dos dias chuvosos de Huambo ou das tardes ensolaradas e escaldantes de Luanda, “Faces” retrata o cotidiano de um povo que merece dignidade, respeito e políticas públicas decentes.
EM NOME DO SORRISO - Em busca de sua ancestralidade, na aldeia Mana Culele, Casimiro foi batizado pelo Soba Garcia Chiteque e autoridades locais, recebendo o nome “Lumbandanga”. Segundo ele, essa expressão faz referência a uma linda serra que perfaz as curvas dos rios Kulele e Ku Kai no município do Bailundo, a 9 quilômetros da sede. Antigamente denominada por Jimba Silili, naquela época transitavam por lá escravos oriundos do Bié com destino a Benguela. Relatos históricos afirmam que geralmente quando passavam por essa região, os escravos estavam muito cansados e choravam muito. “Ao ouvir os escravos chorando, o capataz perguntava o que estava acontecendo. E eles respondiam que não estavam chorando e sim cantando, o que em Umbundo significa Jimba Silili (“só estou a cantar, não a chorar”), ficando assim essas matas conhecidas por este nome”, reproduz Casimiro.
EXPOSIÇÃO – A exposição “Faces” está sendo realizada no Centro Cultural da USP (Campus I), localizado na Av. Dr. Carlos Botelho, 1465, durante o período de 21 de novembro de 2013 a 4 de janeiro de 2014, de segunda a sexta-feira, das 8 às 22 horas, e sábado, das 10 às 18 horas.
Mariucha Magrini