De acordo com "Balanço da Dengue", realizado pelo Ministério da Saúde, em 2013, foram registrados 1,4 milhões de casos prováveis da doença no país. O aumento anual desses números chama ainda mais atenção de profissionais da saúde que, constantemente, trazem informações à população de como prevenir-se contra a doença que, muitas vezes, pode ser fatal.
Sob orientação do docente do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), Francisco Guimarães, a aluna doutorado, Alessandra Figueiredo, resolveu dar uma força às pesquisas relacionadas a doenças negligenciadas e, com o auxílio do pós-doutorando, Nirton Cristi Silva Vieira, detectou moléculas produzidas pelo vírus da dengue e conseguiu desenvolver uma maneira muito mais rápida para diagnosticar a doença. "A dengue é uma doença que carece de métodos de diagnósticos rápidos e baratos, e diante desse fato propomos o desenvolvimento de um dispositivo imunossensor para o diagnóstico precoce da dengue utilizando transistores como transdutores de sinal", esclarece Francisco.
Um infectado pela dengue tem no sangue alta concentração da proteína NS1, produzida pelo vírus. Porém, depois do 6º dia de infecção, a produção de anticorpos aumenta e o organismo, automaticamente, entra num processo de cura. Durante os seis primeiros dias de infecção, não é possível diagnosticar a doença (que, algumas vezes, é confundida com outras infecções) e, no caso de reincidências, a dengue pode ser fatal. "Na primeira vez que a pessoa é infectada, não há tanto problema. Mas, se ela é infectada consecutivamente, a probabilidade de contrair dengue hemorrágica, que é letal, é maior. Por isso, é muito importante que as pessoas saibam se já foram infectadas o quanto antes, para não correr risco de morte", conta Alessandra.
Para solucionar esse problema do desconhecimento da infecção, Alessandra e Nirton construíram um imunossensor, constituído por uma plataforma sensível à proteína NS1, e um sistema de medida, que será capaz de diagnosticar a denge em meia hora, diferente dos métodos tradicionais que levam dias para realizar a mesma tarefa. "A vantagem desse sistema é o transistor de efeito de campo, que pode ser utilizado diversas vezes. Só precisaremos trocar a plataforma sensível para realização de cada exame", explica Nirton.
A inovação da pesquisa em questão foi ainda mais além. Enquanto os imunoensaios tradicionais utilizam anticorpos de mamíferos como receptores de NS1, os pesquisadores utilizaram, pela primeira vez, anticorpos de galinha (IgY) para a mesma finalidade. "Isso é bastante vantajoso, tanto do ponto de vista comercial, pois os anticorpos IgY são de facilmente obtidos e purificados a partir da gema do ovo, quanto do ponto de vista bioético", enfatiza Nirton.
Outra novidade está relacionada à forma de detecção: geralmente, imunossensores eletroquímicos detectam proteínas através de reações indiretas envolvendo anticorpos secundários e outras biomoléculas (enzimas, por exemplo) que geram íons. "Uma vez que a proteína NS1 interage com o anticorpo IgY depositado sobre o plataforma [eletrodo], ela muda a estrutura de carga da superfície e, assim, somos capazes de detectar pequenas alterações na distribuição de carga superficial de forma direta", explica Francisco. "Diante disso, desenvolvemos um sistema supersensível, capaz de detectar uma pequena quantidade de carga sem a necessidade de geração de íons".
Sobre os "kits de diagnóstico da dengue", do qual fará parte o imunossensor mencionado acima, a produção em larga escala será de responsabilidade da empresa "DNA Apta" (São José do Rio Preto- SP), que é parceira no projeto, produzindo e fornecendo os novos anticorpos para a pesquisa em questão. Nirton e Francisco ainda enfatizam o caráter multidisciplinar da pesquisa, que também contou com a colaboração do docente do IFSC, Valtencir Zucolotto, e do apoio técnico do engenheiro do Instituto, Haroldo Arakaki. "São várias áreas do conhecimento envolvidas no projeto, tivemos todo o apoio necessário aqui no IFSC", relatam os pesquisadores.
O preço de custo do kit ainda não está definido, mais gira em torno de R$100,00, bem mais em conta do que outros que existem no mercado. O mais popular entre eles é o "teste Elisa", de custo mais elevado e mais demorado para apresentar o diagnóstico da doença. O método e a pesquisa foram recentemente patenteados* e, depois dos testes devidos e aprovação da ANVISA**, será possível reduzir a ansiedade do paciente infectado pela epidêmica doença.
* A patente está sob o título "Microdispositivos detectores do vírus da dengue; processo de produção de microdispositivos detectores do vírus da dengue
**Agência Nacional de Vigilância Sanitária
Assessoria de Comunicação IFSC