USP São Carlos 22 de Outubro de 2015
Um estudo do Departamento de Engenharia de Transportes, da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, mostrou que é possível analisar a percepção do motorista nas estradas, diante das placas de sinalização, por meio de um simulador de direção. Além disso, esse simulador pode ser aplicado para avaliar os projetos de sinalização rodoviária antes de implantá-los. A pesquisa é pioneira no Brasil no uso de tecnologia para entender o comportamento do condutor.
Para saber se o ambiente simulado forneceria informações próximas à realidade, o estudo mensurou a percepção dos sinais de trânsito, o tempo de observação dos sinais, além da variação da velocidade após perceber as placas de sinalização.
A pesquisa incluiu o desenvolvimento do simulador de direção composto por um modelo virtual da rodovia, um sistema de projeção visual de três telas que envolvem o condutor dentro do ambiente virtual rodoviário, um sistema de som, um cockpit de carro. Há também um sistema de rastreio ocular que compreende três câmeras posicionadas na frente do condutor que detectam a orientação do olhar e uma quarta câmera traseira que projeta o olhar no ambiente virtual.
Foi reproduzido no simulador um trecho com 31 sinais de trânsito, ao longo de 10 quilômetros de serra e curvas, da rodovia Régis Bittencourt, entre São Paulo e Paraná. “Fizemos a construção do cenário, com o projeto geométrico, cadastro da sinalização, filmagens reais da rodovia, além de medições de velocidade dos motoristas para identificarmos as diferenças entre o ambiente real e simulado”, explica o engenheiro civil Miguel Andrés Castillo Rangel.
Ele é o autor da dissertação de mestrado Análise da percepção da sinalização vertical rodoviária utilizando um ambiente simulado de direção. Um estudo de caso na rodovia BR-116 apresentada este ano à EESC sob orientação da professora Ana Paula Larocca.
Variáveis
A simulação foi realizada com 30 condutores da USP em São Carlos, entre motoristas profissionais do campus e alunos. A primeira variável analisada foi a percepção das placas de sinalização. Em média, cada condutor percebia 30% das placas. “Isso é muito parecido com o que a literatura científica registra do que ocorre em rodovias. As pessoas não notam todas as placas que estão no trecho e as que mais chamaram a atenção foram as de velocidade”, informa Rangel. Do percentual de 30% de placas percebidas, 65% eram de velocidade.
Outra variável analisada foi o tempo de observação da sinalização, em média, 0,36 segundos, e a distância em que o motorista começa a ver a placa: cerca de 100 metros. De acordo com o pesquisador, sobre o tempo e a distância, há uma limitação de resolução visual do simulador em relação ao olho humano.
“Nosso olho consegue enxergar muito mais longe do que no simulador por causa da limitação tecnológica de qualquer equipamento de projeção visual. As distâncias são menores do que poderíamos ter na estrada e o tempo foi maior do que o esperado. Isto será corrigido em pesquisas futuras aumentando o tamanho da sinalização para melhorar sua legibilidade no simulador”, informa Rangel.
A última variável foi a velocidade dos condutores no trecho, a média no simulador foi um pouco maior (110 km/h) em relação à situação real (93 km/h). “No simulador, não há movimento e a percepção de velocidade diminui um pouco, por isso o motorista dirige mais rápido. Embora a velocidade no simulador seja maior, há uma correlação entre o que ocorreu no trecho real e no equipamento. O local em que o condutor dirigia mais rápido no trecho, ocorria o mesmo no simulador”, ressalta Rangel.
Percepção e Reação
A pesquisa analisou ainda qual foi a reação dos condutores ao detectarem as placas de sinalização de velocidade. Dos 65% dos motoristas que notaram a sinalização de velocidade, 70% diminuíram a velocidade, entretanto, somente 15% respeitou o limite de velocidade de 60 km/h. Comparando as medições feitas na própria rodovia, esse percentual de respeito à sinalização cai para 10%.
“Esse trecho analisado da pesquisa é um local de serra, com muitos caminhões, curvas fechadas, ou seja, possui um risco importante. Mas os motoristas estão andando a mais 90 km/h, na situação real, percebendo um risco menor do que o realmente é e por isso ocorrem acidentes”, analisa o pesquisador.
Segundo Rangel, foi observado na pesquisa que quanto mais rápido o condutor dirigia no simulador, menos placas percebia. Por exemplo, se a pessoa tinha uma velocidade média de 110 km/h no trecho todo, percebia somente 10% das sinalizações. Já o motorista que percorreu o trecho a 60 km/h, detectou 60% das placas. “Existe uma diferença importante entre a velocidade e a percepção das placas”.
Ele indica o reforço da sinalização para alterar esse comportamento. “A sinalização pode ajudar a aumentar a percepção de risco. Se reforçarmos a sinalização antes de uma curva, os motoristas podem perceber que essa curva tem mais perigo. Justamente, a maior contribuição desta pesquisa foi verificar que o simulador permite avaliar de forma rápida, precisa e segura diversas alternativas de sinalização em uma curva, para citar um exemplo, e prever a efetividade que teriam as mesmos antes de implantá-las na rodovia”.
Mais informações: e-mail makrangel@gmail.com, com Miguel Andrés Castillo Rangel, ou larocca.ana@usp.br, com Ana Paula Larocca. |