Variedades especiais de alface estão ganhando a mesa dos brasileiros. E uma das principais vantagens delas é a crocância.
Brunela, crocantela, romanela, rubinela. A rima que pode soar forçada vem dos nomes escolhidos pela Universidade Federal de São Carlos para batizar suas quatro variedades de alface.
No campus do município paulista de Araras, onde trabalha o professor Fernando Sala em colaboração com o agrônomo Cyro Paulino da Costa. Foram eles que desenvolveram hortaliças que agora despontam como uma promessa para melhorar a salada do brasileiro.
É que a maior parte dos 30 mil hectares de alface do país está focada na produção da variedade crespa. Boa para o agricultor, mas nem tanto para o consumidor.
“A alface crespa domina o mercado por duas características principais. A primeira é porque ela é uma alface com arquitetura aberta, não há formação de cabeça. Isso é bom porque no período de cultivo, na época de verão, quando chove muito permite que a água quando chove escoa com facilidade e não apodrece”, explica Fernando Sala. “Além disso, é uma alface que tem as folhas bastante flexíveis, não se quebra com facilidade. Mas não tem a textura de crocância, que é valorizada pelo consumidor”, diz o professor.
Crocância é a principal característica da alface americana, por exemplo. Em uma das estufas de alface da universidade, as plantas passaram muito do ponto de colheita e chegaram no período de reprodução. É nessa fase que a pesquisa inicia o trabalho de cruzamento e a busca pelas melhores variedades.
Como as flores só ficam abertas pela manhã, é o período que se faz o ritual da polinização.
“A gente vai multiplicar ainda por mais algumas gerações até identificar as características e fixar as características das plantas que a gente deseja, o que deve levar de quatro a cinco anos”, diz Fernando Sala.
A pesquisa na Universidade Federal de São Carlos levou tempo para chegar às suas quatro variedades de alface. Cada uma com suas peculiaridades: brunela, romanela, rubinela e crocantela. Todas são crocantes.
A crocância dessas alfaces está diretamente relacionada às nervuras mais tenras. o caso da Brunela, a espessura chega a ser oito vezes mais grossa do que a folha da alface crespa.
Em Araras, o agricultor Humberto de Souza cultiva hortaliças no sistema hidropônico – aquele onde as plantas recebem os nutrientes através da água. E uma das últimas novidades nas tubulações da sua propriedade é a variedade Romanela. E o motivo é simples: “é a certeza de aceitação, tamanho, sabor”.
No município de Ibiúna, o agricultor Cristiano Psillakis também está gostando do resultado que tem saído dos seus canteiros. “Elas tem características de crocância. A espessura de folha é um pouco maior, o que faz com que o tempo de prateleira dessa verdura seja aumentado porque desidrata menos”, diz o agrônomo e agricultor.
Por semana, Cristiano entrega no comércio da capital, São Paulo, algo em torno de 8 mil pés de alfaces especiais. “Antigamente as pessoas falavam que pouco importava a alface, que o que dava o sabor era o molho. E não é verdade. Se você consegue usar outros sentidos, como o visual de um prato bonito, isso torna o seu ato de comer uma salada algo muito mais prazeroso”, diz Cristiano.
Para testar a versatilidade das alfaces brasileiras, a equipe do Globo Rural procurou o chef Geovane Carneiro, que trabalha num restaurante de alta gastronomia em São Paulo. Com a Brunela e a Rubinela, ele preparou uma salada fria. Já com a Romanela, ele levou as folhas para a frigideira e as grelhou na manteiga.
“Eu resolvi desafiar essa alface. Vou grelhar alface para ver até onde ele aguenta a temperatura”, diz o chef. “Pela qualidade do produto. você pode fazer um processo mais longo e ele continua crocante e o sabor também”. Mesmo depois de grelhada, a alface não perdeu a crocância.