Foi publicado o primeiro anuário de insetos do Brasil, uma iniciativa de 75 cientistas de 33 instituições de pesquisa, incluindo a UFSCar, com a participação de Livia Maria Fusari, docente no Departamento de Hidrobiologia (DHb) da Instituição.
O intuito foi sintetizar, em resultados precisos e inéditos, dados pulverizados na literatura, trazendo à tona o esforço da taxonomia brasileira na descoberta de novas espécies de insetos de um determinado ano, até então desconhecidas.
A primeira edição do anuário registrou o total de 680 novas espécies brasileiras de insetos descobertas e descritas em 2020, classificadas em 112 famílias, sendo o maior grupo de espécies novas o de besouros, com 229. "Essas 680 espécies foram publicadas em 219 artigos científicos, com 423 autores diferentes, residentes em 27 países", conta Fusari, que pesquisa a família de mosquitos Chironomidae, da ordem Diptera, colonizadores de ambientes aquáticos como rios, lagos, poças de água, estações de tratamento de esgoto, dentre outros.
Para a compilação dos dados, os pesquisadores utilizaram 13 mecanismos de busca, com destaque para o "Catálogo Taxonômico da Fauna Brasileira" e indexadores como Google Scholar, Researchgate, Web of Science, Plataforma Lattes, Scopus, Zoobank e Zoological Records. As buscas finais foram feitas nos principais periódicos taxonômicos que publicam novas espécies de Hexapoda (termo científico que agrupa todos os insetos), utilizando palavras-chave para cada grupo taxonômico, junto aos termos "novas espécies", "Brasil" e "2020".
"O compilado trazido no Anuário Hexapoda Brasil 2020 vivia antes em suposições, inferências e no imaginário dos cientistas que trabalham com insetos. O número obtido - 680 - causou espanto a nós e certamente à população. Isso denuncia o quanto estes dados são invisíveis e pulverizados na literatura", registra a docente da UFSCar.
Além dessa análise quantitativa, o trabalho trouxe informações importantes sobre cientistas que estudam a temática.
Um dado alarmante se refere ao número de autoras mulheres: correspondem a apenas 30% na Entomologia (área que estuda os insetos), abaixo inclusive da média nacional de mulheres cientistas (44%), o que demonstra a desigualdade de gênero. "Este é um problema estrutural, que precisa ser corrigido por iniciativas de diversidade e inclusão na Ciência em todos os níveis educacionais - graduação, pós-graduação, pesquisa e docência", analisa Fusari.
Também há desigualdades na produção de espécies descritas para as regiões do Brasil, com alta concentração de autores nas regiões Sudeste e Sul.
"O destaque da região Norte foi o Amazonas, ocupando o terceiro lugar entre os estados no Brasil com maior número de autorias, devido à alta produção científica do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa)", destaca.
Segundo a pesquisadora, a criação de anuários como este é importante, tendo em vista que o primeiro passo para a conservação da biodiversidade é o conhecimento.
"Os insetos dominam todos os ambientes em números de espécies e em quantidade de biomassa (exceto marinho); cerca de 80% das plantas com flores dependem da polinização por eles, e são considerados uma das principais fontes de alimentos para outros animais. O conhecimento sobre eles, com descrição e mapeamento, é, portanto, fundamental para sua conservação e, consequentemente, para manter o equilíbrio dos ecossistemas."
lém disso, publicações como esta geram suporte para decisões mais precisas sobre financiamento público para estudos sobre novas espécies. "Também diminui o abismo da falta de conhecimento sobre os insetos no Brasil que, segundo estimativas, possui menos de 30% de sua diversidade conhecida", complementa Fusari.
O anuário - intitulado "Hexapoda Yearbook (Arthropoda: Mandibulata: Pancrustacea) Brazil 2020: the first annual production survey of new Brazilian species" - foi publicado na revista EntomoBrasilis. O acesso está disponível neste link.