Com sessões gratuitas aos sábados, às 20 horas, o Cineclube do Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC) da USP em São Carlos promoverá neste mês de março a seguinte programação:
8– O ÚLTIMO DANÇARINO DE MAO
Mao’s Last Dancer, Austrália/EUA, 2009, Drama, 117 minutos
Direção: Bruce Beresford
Elenco: Chi Cao, Bruce Greenwood, Penne Hackforth-Jones, Amanda Schull, Su Zhang
Na China de 1972, três oficiais militares do exército chinês adentram em uma sala de aula na escola da província de Xantung na busca por crianças que tenham um talento ainda não descoberto. Numa sala em especial que os oficiais visitaram, o talento de um jovem poderia ter se perdido para todo o sempre, mas como uma dádiva, alguém intercedeu pelo sexto filho de uma família de camponeses. Li Cunxin, na época com 11 anos, teve a imensa sorte entre outros milhões de chineses de ser escolhido para ir a capital Pequim aprender balé. Com o grande desafio de deixar seus pais e irmãos para trás e ir morar sozinho na desconhecida e distante capital, Li não sabe qual decisão tomar até que alguém muito especial em sua vida o ajuda, mostrando ao jovem a imensa sorte que ele teve. Agora, com uma vida privilegiada em meio a de seus irmãos e sentindo falta de sua família que está a quilômetros de distância de sua província, só encontra motivação em seu treinamento olhando a fotografia da sua família, antes do mesmo deixar sua terra natal. Como na vida de qualquer pessoa as dificuldades uma hora aparecem, e não é diferente com Li, que passa a sofrer nas mãos de um de seus professores, mas é sob a tutela do professor Chan que o jovem chinês passará a brilhar sozinho como a estrela solitária do comunismo na bandeira da China. Sempre enfrentando os desafios que lhe aparecem dentro da Academia de Balé da madame Mao, o jovem dançarino é convidado a participar de um curso de verão na Academia de Balé de Houston, quando uma equipe do país símbolo do capitalismo visita as instalações da academia chinesa. Li enfrentará grandes desafios no país que representa o oposto do comunismo, um choque cultural e ideológico que mudará a vida do dançarino para sempre.
Baseado em fatos reais, “O Último Dançarino de Mao” é uma adaptação de “Adeus China: O Último Bailarino de Mao”, livro autobiográfico de Li Cunxin, personagem principal do filme, que chega aos Estados Unidos para estudar na Houston Ballet, companhia do Texas, em 1979.
Marlon dos Santos Melhado
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 10 ANOS
Tema: Realizações
Contém: Violência
15– A INVENÇÃO DE HUGO CABRET
HUGO, EUA, 2011, Aventura, 126 minutos
Direção: Martin Scorsese
Elenco: Asa Butterfield, Ben Kingsley, Chloë Grace Moretz, Sacha Baron Cohen, Jude Law
Uma criança curiosa e destemida fica maravilhada quando seu pai Cabret, um notável relojoeiro, encontra um autômato abandonado no porão do Museu de Paris. Curiosos com os feitos que o achado poderia realizar, Hugo Cabret e seu pai encaram a jornada de consertar o complexo conjunto da estranha máquina. Papa Georges, um comerciante de brinquedos desiludido e atormentado por seu passado, é abalado fortemente quando apreende algo sob a posse de Hugo. Algo que remete o comerciante a um passado que o mesmo tentou apagar de suas memórias durante anos, e que retorna repentinamente com a reviravolta criada. Isabelle, afilhada de Papa Georges, auxilia Hugo na tentativa de reaver seu objeto apreendido pelo comerciante e a partir deste gesto a garota conhecerá o mundo sob uma perspectiva que não estava acostumada a viver. A vida da menina será transformada ao ver o autômato e descobrir a magia que há por trás do cinema, algo que seu padrinho a proibiu de conhecer. Sendo o responsável por manter os relógios da estação em funcionamento, Hugo viverá perigosamente para manter a tarefa do seu então sumido tio Claude Cabret, um sujeito alcoólatra e mal encarado, que da noite para o dia abandona o menino. Com uma mensagem vaga após conseguir colocar o autômato em funcionamento, o garoto imerge numa aventura para descobrir o porquê da mensagem não estar assinada por seu pai e essa busca ligará os destinos de duas pessoas que nunca estiveram tão conectados como antes, um órfão que reside na estação de trem e um esquecido vendedor de brinquedos. O livro “A Invenção de Hugo Cabret” de Brian Selznick, e sua adaptação cinematográfica, são inspirados na história da vida de Georges Méliès, um ilusionista francês de sucesso e um dos precursores do cinema, que usava inventivos efeitos fotográficos para criar mundos fantásticos.
Marlon dos Santos Melhado
LIVRE PARA TODOS OS PÚBLICOS
Tema: Lar
Contém: repreensão, drogas lícitas
22– ANATOMIA DO MEDO
Ikimono no Kiroku, Japão, 1955, Drama, 103 minutos
Direção: Akira Kurosawa
Elenco: Toshiro Mifune, Eiko Miyoshi, Masao Shimizu, Yutaka Sada, Kyoko Aoyama, Akemi Negishi
Anatomia do Medo um magnífico, trágico e emocionante filme de Akira Kurosawa sobre a psicologia humana diante de um perigo iminente e imbatível: a bomba atômica. Harada, um dentista e também conselheiro no tribunal de causas familiares, tenta criar um canal de comunicação para ajudar a solucionar o problema da família Nakajima, que tenta obter a declaração de incapacidade mental para o patriarca, o senhor Kiichi, um velho empresário dono de uma fundição. O senhor Nakajima pretende vender sua fundição e se mudar juntamente com toda a sua família para o Brasil, considerado por ele como um lugar seguro para se viver, diante do perigo nuclear. As duas bombas lançadas sobre o Japão não apenas causaram mortes e sofrimento físico, mas também, profundos transtornos psicológicos, assim como o Godzilla, que nasceu devido às mutações que a bombas nucleares causaram. Uma mutação também ocorre no senhor Nakajima, devido à contaminação mental, de frequente ansiedade, intenso medo e mal-estares persistentes e recorrentes causando medo de morrer. Existe um limite entre sanidade e loucura, o senhor Nakajima pode ser considerado louco, por ter um medo excessivo de ser assassinado, em uma época pós-segunda guerra, vivendo no Japão, o único país a ser vítima de um bombardeio atômico, e ainda que no ano de 1954, testes nucleares no Atol de Bikini, estavam causando chuvas radiativas no Japão. A banalidade atômica se mostra um fato curioso, pois mesmo com o perigo real de toda a espécie humana ser aniquilada, todo tipo de violência, uma hora acaba sendo incorporada como rotineira, e logo as pessoas esquecem-se daquilo que deveria ser lembrado. Akira Kurosawa mostra que em tempos de esquecimento, às vezes alguém como o senhor Nakajima deve aparecer de forma trágica para nos lembrar do perigo real que permeia a nossa sociedade, e nos faz refletir sobre até que ponto a sanidade deve ser encarada como loucura.
Álvaro Nonaka
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 14 ANOS
Tema: Pós-guerra
Contém: Transtorno psicológico
29– LAURENCE ANYWAYS
Laurence Anyways, França, 2012, Drama, 168 minutos
Direção: Xavier Dolan
Elenco: Melvil Poupaud, Suzanne Clément, Nathalie Baye, Monia Chokri, Susan Almgren
Uma silhueta feminina envolta de uma aura de autoconfiança desfila pela calçada, atraindo olhares que até então estavam dispersos, dos mais diversos até aqueles envergonhados, com ódio, com curiosidade e excitação, que tentam penetrar inescrupulosamente na essência desse ser.
Laurence relata detalhadamente sua visão de si mesmo a uma entrevistadora, revelando todo o seu percurso árduo para se transformar naquilo que sempre desejou ser. Laurence Alia, um professor universitário de literatura, casado com Fred Belair, uma divertida mulher não convencional até mesmo para a década de 1980, onde a moda e os cortes de cabelos eram de gostos duvidosos, o pop estava em ascensão e a estética era dominada pelo movimento New Wave. Neste contexto de abertura e transformação cultural e social, Laurence, diferentemente da protagonista de Balzac Júlia d’Àiglemont, que ao completar 30 anos encontra o verdadeiro amor, vê-se diante da real possibilidade em se realizar plenamente conquistando o seu próprio amor, assume para sua esposa Fred o seu desejo em se tornar uma mulher. Em uma época em que o mundialmente reconhecido sistema americano de classificação de transtornos psiquiátricos (DMS) considerava a transsexualidade um transtorno mental, Laurence teve a ousadia de fazer uma revolução, não só em sua vida, mas na sociedade e nos que estavam em sua volta, principalmente Fred. Sua esposa recebeu a notícia com profunda indignação, pois se sentia traída por seu companheiro e não conseguiu enxergar como a relação deles poderia se manter, uma vez que Laurence desejava ser mulher, mas também não se considerava um homossexual. Laurence Anyways trata de assuntos polêmicos como a loucura da normalidade, que nada mais é do que as pessoas passarem toda sua vida em uma idealização normatizada pelo padrão da sociedade e nunca tentarem ser o que são. Também é questionado se as pessoas realmente têm o direito de se intrometerem na vida alheia, apenas por curiosidade.
O diretor Xavier Dolan oferece uma abordagem profunda sobre a existência real do amor, aquele que não se fixa na forma, mas sim na essência.
Laurence Anyways possui uma fascinante trilha sonora baseada em muitos hits dos anos 1980; uma música que não é tocada no filme, mas podemos nos lembrar com facilidade é Love Will Tear Us Apart (O Amor Vai Nos Separar) da banda Joydivision, uma referência pioneira ao som New Wave da primeira metade dos anos 1980, assim como na letra escrita por Ian Curtis, o amor de Laurence é algo tão poderoso que pode romper a barreira da afeição.
Álvaro Nonaka
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 14 ANOS
Tema: Transsexualidade
Contém: Conteúdo sexual, drogas lícitas, linguagem imprópria
Apoio cultural da Locadora Vídeo 21.
O CDCC fica na Rua nove de julho, 1227, Centro.
Mais informações:
Tel.: (16) 3373-9772