Com sessões gratuitas aos sábados, às 20 horas, o Cineclube do Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC) da USP em São Carlos promoverá neste mês de maio a seguinte programação:
10 – FAUSTO
Faust, Rússia, 2011, Drama, 144 minutos
Direção: Alexandr Sokurov
Elenco: Johannes Zeiler, Anton Adasinskiy, Isolda Dychauk, Georg Friedrich, Hanna Schygulla
O grande romance de Goethe, “Fausto”, volta em uma surpreendente obra cinematográfica do diretor Aleksander Sokurov, finalizando assim, a sua tetralogia do poder, composta por Moloch (1999), Taurus (2001), O Sol (2005) e, finalmente, Fausto (2011). Moloch mostra a intimidade da vida cotidiana de Adolf Hitler e sua amante Eva Braun, Taurus mostra a decadência de Lenin, afastado do partido comunista e aguardando a morte em uma casa cedida pelo estado, O Sol acompanha o imperador japonês Hirohito e seus últimos dias como um deus. Fausto diferentemente dos outros três filmes não mostra nenhum líder político, ou alguma época em especial, mas como a tetralogia trata de poder, nossa época se funde a de Fausto pelo seguinte motivo: mas do que nunca evidenciamos que conhecimento é poder.
Fausto é uma adaptação totalmente livre do poema de Goethe, do homem que vendeu a alma ao demônio em troca de conhecimento. O demônio Mefistófeles no filme possui uma casa de penhores e é conhecido como Müller (sobrenome alemão, cuja origem denota um empregado ou um proprietário de um moinho), que possui um moinho metafórico onde as almas dos homens são moídas para se converterem em seus sonhos. Müller possui uma aparência grotesca e uma inaptidão motora, que o torna uma figura marcante e até mesmo carismática. Possuidor de várias almas na cidade e com uma longa fila de espera, ele encontra em Fausto, um homem letrado cuja vida é dedicada à ciência, o exemplar perfeito para se corromper.
Um elemento importante do filme são as cenas que remetem ao expressionismo alemão (caracterizada pela distorção de cenários e personagens), uma forma de remeter os expectadores à pura subjetividade psicológica e emocional em detrimento ao racionalismo, fortemente evidenciado pelo trabalho cientifico do Dr. Fausto.
Com um visual surpreendente, o filme dialoga com as obras de dois grandes gênios holandeses, Bosch e Rembrandt. O primeiro, pintor e gravador, ficou marcado por suas obras retratarem cenas de pecado e tentação, recorrendo à utilização de figuras simbólicas complexas, originais, imaginativas e caricaturais. O segundo assim como Sokurov foi seduzido pelo mito de Fausto e ilustrou o mesmo. Quatro séculos mais tarde, um composto de cinzas que lembra muito os seus quadros, foi utilizado de forma a intensificar sutilmente a paisagem sombria em que o Dr. Fausto estava se envolvendo.
Fausto mostra, de uma forma magistral, a sensível vulnerabilidade humana em relação à vaidade, e até que preço estamos dispostos a ter o que desejamos e depois, de consumado o desejo e passada a sensação de satisfação e ilusão, o que nos resta?
Álvaro Nonaka
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 14 ANOS
Tema: Drama épico
Contém: Violência, conteúdo sexual
17 – A SEPARAÇÃO
Jodaeiye Nader az Simin, Irã, 2011, Drama, 123 minutos
Direção: Asghar Farhadi
Elenco: Peyman Maadi, Leila Hatam, Sareh Bayat, Shahab Hosseini, Sarina Farhadi, Merila Zare"i
O que deve prevalecer em situações difíceis quando nos é atribuída uma decisão? A ética, a felicidade, a mentira? Em “A Separação” são expostos contextos diferentes em que o filme nos remete a uma reflexão sobre as atitudes adotadas nos diferentes casos apresentados, onde as decisões afetam e transformam vidas.
A simples decisão de ser ético altera o rumo que a vida de Naader poderia tomar, orgulhoso e carinhoso com seu pai enfermo, ele enfrentará um duro e grande desafio. Casado há quatorze anos com Simin, ele é colocado em xeque quando é forçado a escolher entre a felicidade e a moral, algo pelo qual não esperava que acontecesse. Passando por um momento difícil em sua vida, e sem saber o que fazer para dar continuidade a ela, Naader contrata Razieh, uma mulher aflita devido a seus problemas financeiros e familiares, para cuidar de seu pai enquanto está fora de casa trabalhando.
Indicada por sua cunhada para o trabalho, uma conhecida de Simin, Razieh é levada ao limite de sua fé quando é forçada a pecar em prol do sustento de sua família desestruturada e frágil, não bastando isso o mundo lhe prega uma peça inesperada que desestabiliza sua vida.
Com um marido descontrolado emocionalmente devido ao estresse e ao desemprego, ela se sufocará ainda mais quando revelar a forma como feriu a si e a outras pessoas, uma ocultação de informações que poderia ter desfeito as armadilhas a que se prendeu.
Simin, chocada com o divórcio e pelo abandono sofrido, busca desesperadamente o reconhecimento do marido, tentando de várias maneiras ser notada novamente por Naader, seu amado companheiro.
Com uma construção de personagens incrível e ambientado em situações que podem ocorrer com qualquer pessoa, este grande e espetacular filme de Asghar Farhadi aborda de diferentes modos uma história comovente e marcante.
Marlon dos Santos Melhado
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 12 ANOS
Tema: Busca pela justiça
Contém: Agressão verbal, angústia
24 – CORAÇÕES SUJOS
Corações Sujos, Brasil, 2011, Drama, 147 minutos
Direção: Vicente Amorim
Elenco: Tsuyoshi Ihara, Takako Tokiwa, Eiji Okuda, Eduardo Moscovis, André Frateschi
Com um ataque nuclear nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, os EUA com suas bombas Little Boy e Fat Boy, marcaram a história da humanidade para todo o sempre. Devastado e sem esperanças de vitória, o Japão aceitou a rendição, algo que nunca havia ocorrido em 2600 anos de existência daquele país, uma afronta ao orgulho e a honra dos japoneses. Ambientado nesses acontecimentos, uma colônia japonesa no interior do Brasil se divide entre os que creem na vitória do Imperador e da supremacia japonesa e os que aceitam a derrota como verdade, sendo tachados de “corações sujos”, nome dado para aqueles que desonraram o Imperador por não acreditar em sua divindade e na vitória de seu país na guerra, restando a eles apenas à lavagem de suas almas, um ritual samurai de purificação.
Ainda assim, a veracidade das informações noticiadas no rádio não parecia fazer sentido nenhum para a população nipônica do Brasil. A notícia era vista apenas como uma medida diabólica usada pelo inimigo para abalar a convicção japonesa. Temendo um agravamento na segurança do país, o governo brasileiro decreta a proibição de reuniões entre japoneses sob quaisquer circunstâncias. Até mesmo crianças reunidas numa escola improvisada, onde Miyuki Takahashi era professora, era entendido como crime.
Com a bandeira do Sol nascente profanada por policiais, Noburu Watanabe, ex-coronel do Exército Imperial do Japão, em consenso com amigos decide dar início a uma retaliação a ofensa cometida. O estopim para uma carnificina sem precedentes, onde o algoz dos traidores rende-se à honra do espírito nacionalista japonês frente à razão e a verdade, para realizar a lavagem das almas dos “corações cujos”. Como num flash de uma fotografia a ser batida num ambiente mal iluminado, a vida de Takahashi-san, marido de Miyuki, vai do grande clarão a completa escuridão, um caminho sem volta e sem redenção.
Marlon dos Santos Melhado
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 14 ANOS
Tema: Guerra
Contém: Violência, drogas lícitas
31 – ADEUS, MINHA RAINHA
Adieux a la Reine, França, 2011, Drama, 100 minutos
Direção: Benoit Jacquot
Elenco: Diane Kruger, Léa Seydoux, Virginie Ledoyen, Xavier Beauvois, Noémie Lvovsky, Michel Robin
“Adeus, Minha Rainha”, obra do diretor Benoit Jacquot, baseado no romance homônimo de Chantal Thomas, retrata um breve período dentro do palácio de Versalhes em meio à turbulenta Revolução Francesa (1789 d.C.), que marcaria o inicio de uma nova era, a Contemporaneidade.
Sidonie Laborne, leitora oficial da rainha Maria Antonieta, vive dentro dos muros de Versalhes, um dos lugares mais luxuosos do mundo e ali, ela presencia todo tipo de intrigas e costumes, que variam desde fatos políticos, militares, comentários maldosos das damas francesas, banquetes memoráveis até o último conceito na moda europeia.
A senhorita Laborne sente uma fixação pela rainha, um amor platônico e uma devoção total, mesmo a soberana sendo fútil e egoísta. Maria Antonieta é vista por muitos cortesãos como imoral, pelo suposto envolvimento afetivo com a Condessa de Polignac, figura com uma reputação maculada, inflamada por supostos casos extraconjugais e farras abundantes que foi aceita na corte de Versalhes devido a altas pensões e novos títulos oriundos da boa vontade da rainha.
As revoltas em Paris parecem não afetar o antro de luxuria e frivolidade da Europa que é o palácio de Versalhes. Seus moradores continuam com uma vida sublime e cheia de regalias. Somente uma violenta invasão ao palácio irá dar um significado profundo e remover a aura de superioridade na qual a monarquia se empoleira. Nesse pessimista cenário, Sidonie tem o privilégio de assistir a derrocada do rei Luis XVI e de toda a corte imperial e mais uma vez se frustrar diante dos caprichos de sua amada rainha, que a utiliza como isca para proteger a Madame de Polignac.
Adeus, Minha Rainha nos exibe uma França em revolução, como pano de fundo para sustentar a complexidade do amor e da fidelidade, tanto da Senhorita Laborne pela rainha, assim como a de Maria Antonieta pela Condessa de Polignac. Esses dois sentimentos serão enormes sobretudo a fidelidade que excederá tudo que se possa pensar, enquanto elas não tiverem certeza de serem verdadeiramente amadas. Ainda que nos pareça incompreensível, a fidelidade parece ser apenas uma confissão de impotência.
Álvaro Nonaka
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 14 ANOS
Tema: Revolução Francesa
Contém: Nudez, violência
Apoio cultural da Locadora Vídeo 21.
O CDCC fica na Rua nove de julho, 1227, Centro.
Mais informações:
Tel.: (16) 3373-9772