Um novo material a ser usado como sensor (dispositivo eletrônico) para analisar produtos transgênicos está sendo desenvolvido por uma pesquisadora do Instituto Superior de Engenharia do Porto - ISEP (Portugal), em parceria com pesquisadores brasileiros e argentinos, incluindo especialistas do Grupo de Cristalografia do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP).
Os produtos transgênicos contêm organismos geneticamente modificados (GMO's, na sigla em inglês), que podem aumentar a produtividade e qualidade de alimentos e plantas. No Brasil, a soja é um dos alimentos transgênicos mais comercializados. Embora sejam grandes aliados do setor produtivo, esses organismos causam controvérsia entre cientistas e órgãos governamentais, justamente pelo fato de poderem causar mutações genéticas no organismo humano, em longo prazo.
Ao contrário do que ocorre em países como o Brasil, na Europa existe uma preocupação muito grande a respeito do uso desses organismos, motivo pelo qual existem regras estabelecidas para a comercialização de produtos transgênicos. Por essa razão, criou-se o GMOsensor (Monitoring Genetically Modified Organisms in Food and Feed by Innovative Biosensor Approaches), um consórcio coordenado pela portuguesa Dra. Cristina Delerue-Matos e formado por dezenas de pesquisadores europeus e sul-americanos, que tem o objetivo de desenvolver dispositivos para aplicação na área de transgênicos e verificar se produtos comercializados contêm, ou não, GMO's.
No âmbito dessa rede internacional, a doutoranda Alexandra Plácido, do ISEP, desenvolveu um novo material para uso em biossensor para analisar e identificar a presença de proteínas de GMO's] em qualquer tipo de produto, principalmente em alimentos e plantas. Neste sentido, para fazer a análise, as amostras suspeitas são inseridas em uma placa de vidro modificada com ITO (substância que contém os elementos índio e titânio) e localizada no sensor, que é formado por uma série de camadas de polímeros e peptídeos imobilizados com uma proteína chamada Cry1Ab16, retirada da bactéria Bacillus thuringiensis e utilizada em plantas, para afastar a presença de insetos.
Quando uma amostra entra em contato com a placa do biossensor, ocorre uma reação eletroquímica que permite verificar se a substância analisada contém, ou não, organismos geneticamente modificados. "Os filmes de ITO, que são bastante usados nas telas de smartphones para permitir comandos pelo toque de mão, têm baixa resistência. Isso facilita a captação do sinal da amostra, tornando a leitura do sensor mais confiável", enfatiza a pós-doutoranda do Grupo de Cristalografia do IFSC, Ana Carolina Mafud, que participa do projeto, juntamente com a Profa. Dra. Yvonne Primerano Mascarenhas, docente do citado grupo.
Ambas analisaram cada etapa da organização das camadas estruturadas no biossensor, permitindo que ele possa ser comercializado futuramente para indústrias interessadas em verificar seus próprios produtos, ou para instituições da área de qualidade. "Estudamos essas camadas para analisar como elas estavam estruturadas, se era necessário aprimorar o produto, ou se algum dos filmes era responsável por alguma interferência no sensor", explica a Profa. Yvonne Mascarenhas.
Mais do que isso, Alexandra Plácido estudou um peptídeo derivado da Cry1Ab16, tendo observado a sua estrutura através da técnica de Dicroísmo Circular. Baseada em um tipo de luz (polarizada), essa metodologia permite observar o comportamento de substâncias em solução aquosa. "A partir de todas as análises, obtivemos informações que agora podem ser utilizadas para entender melhor o funcionamento da proteína", complementa a Profa. Yvonne Mascarenhas.
Pesquisa interdisciplinar
A docente do IFSC/USP destaca a interdisciplinaridade do trabalho, que conta não apenas com a colaboração das especialistas do Instituto de Física de São Carlos, mas também de pesquisadores da Universidade Federal do Piauí (UFPI), sob a coordenação do Prof. José Roberto Leite, e do CENPAT-CONICET (Centro Nacional Patagônico-Conselho Nacional de Investigação Científica e Tecnológica), através da Dra. Mariela Marani (Argentina). "Neste projeto, cada pesquisador tem contribuído com a sua competência. Essa característica facilita a obtenção de bons resultados com mais agilidade", enfatiza a Profa. Yvonne Mascarenhas.
Em paralelo ao desenvolvimento do citado biossensor, os cientistas envolvidos na pesquisa em questão já estão trabalhando na criação de um segundo dispositivo que, ao invés de fazer a análise de modo eletroquímico, poderá verificar produtos transgênicos de forma óptica a partir da aplicação de outras técnicas.
O artigo correspondente à pesquisa descrita nesta reportagem foi publicado em abril último na revista científica Materials Science and Engineering: C[TS7].
A pesquisa descrita nesta matéria de divulgação pode se encontrar em fase inicial de desenvolvimento. A eventualidade de sua aplicação para uso humano, animal, agrícola ou áreas correlatas deverá ser previamente avaliada e receber aprovação oficial dos órgãos federais e estaduais competentes. A responsabilidade pelas informações contidas na reportagem é de inteira responsabilidade do pesquisador responsável pelo estudo, tendo sido devidamente conferidas pelo mesmo, após editadas por jornalista responsável devidamente identificado, não implicando, por isso, em responsabilidade da instituição.
Assessoria de Comunicação - IFSC/USP