Em sua primeira declaração após as denúncias de fraudes nos testes de emissão de poluentes nos Estados Unidos, o presidente da Volkswagen no Brasil, David Powels, reafirmou ontem o plano de investir R$ 10 bilhões no Brasil, embora o grupo esteja revendo investimentos globais após a descoberta da fraude que deve lhe causar prejuízo bilionário em multas, processos e recalls.
"Não vamos cortar produtos no Brasil. Vamos continuar com nossos planos", disse Powels, ao ressaltar que o pente fino nos investimentos planejados pela multinacional alemã não terá "grande impacto" na renovação dos modelos vendidos no Brasil.
Lançado no ano passado, o programa prevê investimentos destinados, principalmente, à produção local de carros globais da marca até 2018. O ciclo de inclusão do país na plataforma tecnológica mundial já resultou na nacionalização de três modelos - o subcompacto Up!, a nova geração do Golf e o sedã Jetta. Estão previstos lançamentos nos próximos anos.
Há uma semana, após antecipar que revisaria os planos e cancelaria ou adiaria o que não fosse absolutamente necessário, a Volks anunciou meta de cortar investimentos em € 1 bilhão por ano.
A decisão faz parte das medidas tomadas diante da iminência de pesadas sanções na Europa e Estados Unidos, onde foi descoberto que a empresa programou carros movidos a diesel para emitir até 40 vezes menos poluentes quando submetidos a testes em laboratórios. Estima-se que a multa do governo americano poderá chegar a US$ 18 bilhões, ou cerca de 90% do que o grupo tem hoje em caixa.
Embora a subsidiária do Brasil dependa do caixa da matriz na Alemanha para financiar parte dos empreendimentos, Powels garante que a prioridade em modernizar a gama de produtos - fundamental na ambição da marca, também anunciada ontem, de voltar a liderar o mercado local - fecha espaço para grandes cortes nos aportes.
"Não vamos reduzir [os investimentos. Precisamos investir em uma nova plataforma e introduzir carros no país. Não há possibilidade de cortar muito", disse o executivo. Entre os projetos, a Volks já fechou acordos trabalhistas para viabilizar investimentos numa nova plataforma de carros globais no parque industrial no ABC paulista.
Ele abordou as repercussões no país do maior escândalo da história da Volks ao participar de congresso organizado pela agência Autodata para debater as perspectivas da indústria automobilística brasileira. Durante sua apresentação, lamentou a perda de competitividade da cadeia automotiva nacional e criticou a falta de coordenação entre entidades que representam o setor na defesa, junto ao governo, de temas de interesse em comum. Contudo, evitou falar da fraude nos motores a diesel.
"Nossa prioridade é reconquistar a confiança de nossos consumidores. Nossa matriz está trabalhando duro para resolver o problema", disse Powels, repetindo o posicionamento que vem sendo manifestado pelos administradores da Volks na Alemanha. "Não vou falar mais sobre o assunto hoje. Mas, trabalho há 26 anos no grupo, e tenho confiança de que vamos resolver esse problema."
Mais tarde, cercado por jornalistas, o chefe da Volks no Brasil discorreu mais sobre o assunto, sem adiantar, porém, se a montadora tem veículos no país equipados com dispositivos que adulteram testes de emissões. Segundo ele, comunicado a esse respeito deve ser divulgado nos próximos dias.
A expectativa é que a montadora revele se a picape Amarok, único modelo a diesel vendido no país, faz parte dos 11 milhões de veículos afetados pelo software capaz de enganar inspetores ambientais.