A escola não tinha computador à disposição nem mesa de treino. Mas a equipe organizadora da Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR) emprestou um kit para que os estudantes pudessem montar seus próprios robôs, treinarem e participarem da competição. Resultado: saíram com uma medalha de prata e outra de bronze do Ginásio de Esportes da USP, em São Carlos, no último sábado, 14 de junho. Com lágrimas nos olhos, a coordenadora pedagógica Kátia Schimidt, da Escola Estadual Coronel Franco, de Pirassununga, resume em uma palavra a trajetória percorrida por seus alunos para alcançar essa façanha: superação.
“Eu nunca tinha mexido com um robô antes, achava que ele saía da fábrica pronto. Então, descobri que precisava programar. Até minha família gostou da experiência. Foi muito legal”, conta o estudante João Pedro de Alcântara, membro de uma das equipes da Coronel Franco, a Tintanboot, com a medalha de bronze no pescoço. Ele e os colegas da outra equipe que representaram a escola – Pacboot – participaram da competição na categoria nível 1, destinada aos estudantes de ensino fundamental. Há também o nível 2, voltado ao ensino médio. A professora de tecnologia da escola, Flávia de Oliveira, conta que, antes de começarem os treinamentos para a OBR, não havia sido ensinado nenhum conteúdo relacionado à robótica na escola. “Pegamos os kits emprestados e trabalhamos apenas durante dois meses”, revelou.
Quem também comemorou a conquista foi a vice-coordenadora do Centro de Robótica de São Carlos (CROB) e professora do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, Roseli Romero: “É muito bom saber que, em tão pouco tempo, os estudantes conseguiram usar esse material e alcançar ótimos resultados”. Ela, juntamente com os professores do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), coordenaram a regional da OBR, realizada pela primeira vez em São Carlos.
Ela explica que, para estimular a participação das escolas que não tinham kits, empresas fabricantes emprestaram alguns kits à equipe organizadora da regional, que os repassou às escolas interessadas. O CROB é composto por pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) e do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), ambos da USP.
Uma nova forma de aprender - Histórias como a da Escola Estadual Coronel Franco mostram quanto uma disciplina como a robótica pode motivar alunos e professores na construção de uma nova forma de aprendizado. “Geralmente, o resultado da participação na competição é que os estudantes melhoram o rendimento em todas as disciplinas e passam a gostar mais da escola. Acredito que a robótica não tem potencial apenas para revolucionar a ciência brasileira, mas também pode revolucionar nossa forma de ensinar”, explicou Flávio Tonidandel, coordenador geral da OBR.
Das 99 equipes inscritas de escolas públicas e privadas das cidades da região, 70 compareceram ao evento, que vem crescendo ano a ano. “Em 2012, a OBR contabilizou 300 equipes inscritas na competição em todo o Brasil; em 2013 esse número subiu para 800 e, em 2014, são 1,9 mil equipes”, destaca Tonidandel. Segundo ele, o Estado de São Paulo é o que tem o maior número de inscritos.
As 15 melhores equipes de ensino médio e as 10 melhores de ensino fundamental que participaram da etapa regional da OBR em São Carlos foram selecionadas para disputarem a estadual da competição, que acontecerá no dia 9 de agosto, em São Bernardo do Campo.
Prática que ensina – Para o mestrando do ICMC, Adam Henrique Pinto, um dos voluntários que contribuiu para a realização do evento em São Carlos, participar da OBR ajuda os estudantes a desenvolverem o raciocínio lógico: “É também uma forma de aprender o que é a computação na prática porque as crianças criam o robô do zero. Elas usam alguns kits de robótica, mas precisam montam o robô e testá-lo em diversos tipos de acontecimentos”.
Entre os desafios enfrentados pelos robôs recém-criados estão falhas na linha da estrada pela qual devem passar, redutores de velocidade e obstáculos. “A criança tem que aprender a programar de uma forma geral, para que o robô seja capaz de atuar em qualquer tipo de arena, porque as arenas apresentam dificuldades diferentes (fácil, médio e difícil)”, explica.
Por isso, as equipes disputam a modalidade prática em dois níveis. No nível 1, voltado aos alunos do ensino fundamental, o robô competidor, em uma simulação de resgate, precisa encontrar uma vítima, superando várias adversidades. Já no nível 2, destinado a alunos do ensino médio, além de encontrar a vítima, o robô deve resgatá-la, passando também por diversos obstáculos.
Final da OBR ocorrerá de 18 a 23 de outubro - A etapa nacional da OBR, chamada RoboCup Junior Rescue A, também ocorrerá em São Carlos e será sediada no ICMC. O evento acontecerá de 18 a 23 de outubro, durante a Competição Brasileira de Robótica (CBR 2014), garantindo aos campeões de cada nível uma vaga para participar da RoboCup Junior Mundial 2015 – a ser realizada na Tailândia.
A final ocorrerá em paralelo com a Conferência Conjunta de Robótica e Sistemas Inteligentes de 2014, que inclui outros eventos científicos de grande relevância para o país e para a América Latina. Além da CBR 2014 serão realizados: Latin American Robotics Competition (LARC), Latin American Robotics Symposium (LARS), Simpósio Brasileiro de Robótica (SBR), Robocontrol, The Brazilian Conference on Intelligent Systems (BRACIS) e Encontro Nacional de Inteligência Artificial e Computacional (ENIAC).
Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do ICMC/USP - com colaboração da Assessoria de Comunicação da EESC
Equipes classificadas para a etapa estadual da OBR
Nível 2 – Ensino médio
1. Etapa 8
2. RoboCraft
3. Bazinga 2
4. Álvaro Guião
5. Alien S1
6. Pré-Exatas CECMF
7. Asgard
8. CTi-Night
9 José Juliano Neto
10.Pequenos Cientistas Ares
Nível 1 – Ensino fundamental
1. Bazinga1
2. Pacboot
3. Titanboot
4. Naipe NX2YZ
5. Tuparobos
6. Robô Brasil
7. Sigma BR
8. Sigma FR
9. Marivaldo Degan
10. Insabots
11. Equipe JKMI
12. Robô Ação
13. Equipe Iori
14. RoboGamers
15. Sabin