Na Linguística, o ethos pode ser entendido, de uma forma simplificada, como a imagem que uma pessoa constrói de si mesma por meio do discurso. Com base nessa área de estudos, pesquisadores da UFSCar analisaram a construção do ethos das três presidentes sul-americanas em entrevistas cedidas a emissoras de televisão.
A pesquisa acaba de ser publicada na Revista Científica Francesa Revue française des sciences de l"information et de la communication, em artigo intitulado "Mécanisme d"incorporation de l"ethos réfléchi chez les leaders sud-américains". São os autores as doutorandas em Linguística, Paula Camila Mesti e Rilmara Rôsy Lima, e Roberto Leiser Baronas, docente do Departamento de Letras (DL) da UFSCar, todos integrantes do Laboratório de Estudos Epistemológicos e de Discursividades Multimodais (LEEDiM-UFSCar/CNPq).
Como objeto de pesquisa, os autores analisaram uma entrevista dada pelas presidentes a emissoras de televisão. No caso da presidente do Chile, Michelle Bachelet, a entrevista foi cedida ao Canal Encuentro, em 22 de maio de 2009.
Cristina Kirchner, da Argentina, cedeu entrevista no dia 19 de fevereiro, para a TV Publica Canal Siete, e Dilma Rousseff em 1 de outubro de 2010, em entrevista cedida para a TV Record. "Partimos da premissa de que as líderes sul-americanas possuem um outro tipo de discurso, diferentes dos líderes, que geralmente se baseiam em uma retórica bélica", explica Baronas.
O foco da Análise do Discurso, postulada pelo pesquisador Dominique Maingueneau, está relacionado ao mecanismo de incorporação do ethos refletido, ou seja, imagens construídas em enunciados realizados pelos jornalistas. "Dependendo da forma como é feita, a pergunta pode engendrar uma imagem positiva ou negativa da entrevistada, direcionando a construção do ethos das três presidentes", descreveu Paula Mesti.
A análise indicou que no caso de Michelle e de Cristina as imagens são convergentes, ou seja, o ethos refletido construído pelos jornalistas é idêntico ao ethos discursivo construído pelas presidentes.
No caso da presidente Dilma, o resultado foi um ethos divergente, uma vez que se observou um ethos refletido negativo produzido no discurso do enunciador entrevistador e um ethos discursivo positivo, um ethos de inteligência, presente no discurso do enunciador entrevistado."Em parte das perguntas feitas, a presidente Dilma teve que fazer manobras para desconstruir o ethos refletido construído pelos jornalistas, o que não foi preciso pelas outras presidentes", explicou Mesti.
Para Baronas, o artigo aponta um novo modelo de língua política, que deve ser visto não pelo fato de as presidentes serem do sexo feminino, mas, sobretudo, por conta de uma nova configuração de discurso político, em que se relativiza a retórica beligerante e se inaugura a do cuidado dos cidadãos e cidadãs. O resultado divulgado no artigo compõe a pesquisa que vem sendo desenvolvida pela doutoranda.