“O processo de doação de órgãos no País se depara com muitas dúvidas sobre como se tornar um doar. A falta de informação impede o aumento do número de doações efetivas, o que prolonga ainda mais a espera dos pacientes que estão na fila por um transplante, e que precisam desse procedimento para que sua qualidade de vida possa melhorar”, afirmou o coordenador da Comissão de Doação de Órgãos e Tecidos da Santa Casa de São Carlos, Ivan Carlos de Manzano Linjardi, ao reforçar que a situação nacional se reflete em São Carlos.
Na expectativa de mudar esse panorama, mesmo que de forma regionalizada, a Santa Casa promoveu a capacitação de duas enfermeiras no curso de “Formação de Coordenadores Intra-Hospitalar de Transplante por meio de Simulação Realística” ministrado na capital paulista pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEPAE).
De acordo com a enfermeira e coordenadora das Unidades de Terapia Intensiva (UTI), Maria Thereza Lazzarine o curso realizado em dois dias buscou formar novos coordenadores, que possam difundir as técnicas de abordagem das famílias em casos da morte cerebral do paciente, a identificação do potencial doador, como também a ética e bioética no transplante de órgãos.
“Outro item também bastante discutido foi a importância de se fazer a notificação ao estado de pacientes que apresentam quadro clínico de morte encefálica”, relatou.
Para a enfermeira da UTI Coronária, que também participou do treinamento, Cibele de Lourdes Santi Rubert a notificação, que é compulsória (obrigatória) ao Estado, exige que os hospitais de referência em São Paulo tenham uma grupo de profissionais de saúde aptos a identificar o quadro clínico e relatar ao Programa Paulista de Incentivo à Doação de Órgãos, da Secretaria Estadual de Saúde.
Maria Thereza narrou que o curso usou atores, dai se tem a “simulação realística” que personificaram o paciente e as famílias. “O contato, mesmo que fictício, com pessoas em situação limite trouxe um grande aprendizado e aperfeiçoamento nas técnicas de abordagem das famílias, além de nos atualizar com os procedimentos pré e pós-captação”, explicou.
A formação de novos coordenadores vem ao encontro da política de expansão de serviços de saúde da Santa Casa e comunga com a ação estadual pra intensificar a doação de órgãos.
“A proposta do curso foi de disseminar as técnicas e informação dentro dos hospitais do Estado, na perspectiva de aumentar o número de doadores de tecidos e órgãos humanos e diminuir as filas de transplante”, sintetizou Maria Thereza.
INFORMAÇÃO
“A sociedade e, ainda, algumas famílias não se sentem seguras com as informações no momento da abordagem para a autorização de doação”.
Isto é o que revela a pesquisa de mestrado do enfermeiro Elton Carlos Almeida, na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP.
O estudo evidenciou entre outros itens que o profissional carece de informação para sustentar a abordagem com a família, mais especificamente para informar à família sobre a possível morte encefálica e, ainda, sobre os trâmites pós-doação.
“Da mesma forma, a existência de barreiras relacionadas aos preconceitos, a tabus, a mitos e a crendices populares sobre doação de órgãos, emperra cada vez mais o conhecimento adequado sobre o assunto, dificultando com isso o entendimento sobre o processo”, diz Almeida.
A Santa Casa de São Carlos investe na formação desses profissionais capacitados, como também, na aquisição de equipamentos de alta tecnologia, que possam dar segurança do diagnóstico de morte encefálica.
O equipamento que faz o exame doppler transcraniano possibilita um através da avaliação as velocidades de fluxo do sangue, nas principais artérias do cérebro.
De acordo com o diretor Superintendente da Santa Casa, Gilberto Brina, a compra desse equipamento será concretizada no início de 2015.
BOX
Doador tem de manifestar desejo em vida
O processo de doação de tecido e órgão humanos só se concretiza se houver a manifestação em vida do doador de seu desejo. Por isso é importante que as pessoas relatem aos familiares ou parceiros que tem intensão de doar os órgãos.
Na avaliação do coordenador da Comissão de Doação de Órgãos e Tecidos da Santa Casa de São Carlos, Ivan Carlos de Manzano Linjardi essa informação tem de ser difundida para que se aumente o volume de captação de tecidos e órgãos humanos. “O depoimento em vida é o primeiro passo para se concretizar a doação. A manifestação já abre caminho para se abordar a família que passa naquele momento por um drama individual”.
Linjard disse ainda que o processo de conscientização da sociedade passa por uma quebra de tabus e que só a informação poderá romper com o preconceito.
Nesse sentido, uma vez manifestada de forma livre e consciente será considerada, pelo Estado, a manifestação de tal vontade. Essa autonomia é um dos pressupostos básicos de validade da doação, ou seja, a disposição de algo que incorpora a pessoa de alguém só será eficaz se o seu possuidor se manifestar de forma a deixar clara sua intenção de disposição.
Para incentivas a manifestação do desejo de doar órgãos a Comissão de Doação de Órgãos e Tecidos da Santa Casa planeja um cronograma de palestrar para instituições e sociedade civil organizada com o intuito de esclarecer sobre o processo de doação. O cronograma ainda não está fechado mas será realizado ainda em 2015.
Crédito – Hever Costa Lima/Divulgação